já não temos muitos dias, amor, e talvez hoje não saibas disso porque a minha voz não te quer proferir a sentença e a minha pele está já coberta pelo terriço das folhas secas, os incensos não conheceram a quentura do pavio porque eu nunca dominei o fogo
restam cânticos que são ilusões mas faz o que te peço – não creias nas miragens, este deserto é falso porque a verdade foi demasiado cavada e mesmo esta voz que te escreve são tantas e tão parcas que não saberias que grito escutar nem que cego amparar
o remoinho acendeu-se, as algas revoltaram- se e me afagam como me afundam, o deserto acordado me calcinou, a noite me consumiu e dentro de mim o mármore amadureceu – não me deixa dar-te nem os pedaços de um recado violento, solidificam-se-me as cordas vocais quando tento dizer-te “não temos muitos mais dias, amor”
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